Fiat Uno Attractive tem motor 1.0 FireFly como destaque; direção elétrica
é outra novidade interessante, mas conteúdo de série traz somente o essencial
Por Alexandre Soares
Quando os motores 1.0 de três cilindros começaram a se proliferar no país, há alguns anos, causaram alguma estranheza: houve quem desconfiasse da durabilidade e até atribuísse essa nova tecnologia apenas à economia de aço e alumínio no processo de fabricação (algo que não pesa tanto no sistema de manufatura, pois novos projetos exigem milhões em testes e na adequação do maquinário industrial, enquanto a matéria prima é, via de regra, o insumo mais barato da cadeia produtiva). O fato é que os tricilíndricos foram obtendo melhores resultados em consumo e desempenho que seus similares com quatro pistões, o que foi logo comprovado pela imprensa especializada e também pelos proprietários. Com o 1.0 Firefly, da Fiat, ocorre exatamente o mesmo: quem já o experimentou não sente saudade do antecessor Fire.
De fato, o antigo quatro cilindros da marca italiana já pedia mesmo por uma aposentadoria. Em relação a ele, o novo propulsor tem 1 kgfm a mais de torque com etanol e 0,9 kgfm a mais com gasolina (diferença expressiva para motores 1.0 naturalmente aspirados), totalizando 10,9 kgfm com o primeiro combustível e 10,4 kgfm com o segundo, a 3.250 rpm. Já a potência quase não mudou: teve aumento de 2 cv com o destilado da cana, atingindo a 77 cv, mas perdeu 1 cv com o derivado do petróleo, chegando a 72 cv, sempre a 6.250 rpm.
Força
Isso é fruto da arquitetura com apenas duas válvulas por cilindro, enquanto os similares de outros fabricantes têm quatro e, consequentemente, maiores valores de potência. De qualquer modo, a Fiat alega que priorizou as respostas em baixa rotação, o que, contudo, não parece explicar toda a história, uma vez que tecnologias de variação há muito deixaram no ado a falta de linearidade dos cabeçotes multiválvulas. O 1.0 FireFly até tem um variador de fase, recurso voltado para esse fim, que todavia é mais simples que o comando variável, superior em eficiência e também em custo. De qualquer modo, há outras soluções interessantes, como corrente de acionamento, com vida útil, segundo o fabricante, similar à do propulsor como um todo, além de bloco e cabeçote feitos de alumínio e de sistema de partida a frio por aquecimento dos bicos injetores, sem subtanque de gasolina.
Em sintonia com os números de torque e as declarações do fabricante, o motor FireFly deixou o Uno bem mais esperto, principalmente em trânsito urbano. Para um hatch 1.0 sem sobrelimentação, o modelo entrega bastante agilidade em arrancadas e subidas. É muito superior ao antecessor equipado com motor Fire, cujo torque máximo, apesar de também ser entregue em baixa, era pequeno, o que sacrificava o desempenho. Porém, ainda há falta de força em rotações mais altas: pouco elástico, o propulsor fica amarrado acima de 4.000 rpm. Assim, na estrada, o compacto ainda sofre para fazer ultraagens. Por mais que esse tipo de veículo tenha proposta urbana, é preciso ponderar que, mesmo eventualmente, seus proprietários irão utilizá-los também em rodovias. Por outro lado, o tricilíndrico da Fiat é dos mais suaves do mercado, e não apresenta vibração excessiva em faixa de rotação alguma.
Direção elétrica
Outro ponto criticável é que, apesar das melhoras proporcionadas pelo motor, a Fiat deixou de mexer no câmbio, cujo manuseio é prejudicado pelos engates imprecisos e pelo curso muito longo da alavanca. Porém, há uma outra boa novidade: o fabricante deu ao Uno uma direção com assistência elétrica, com função City, que aumenta a leveza em manobras. Mesmo sem acionar esse recurso, o sistema deixa o volante muito macio, o que torna bem fácil a tarefa de estacionar o hatch, mesmo em vagas apertadas. O problema é que há pouca progressividade, de modo que, em alta velocidade, a direção fica excessivamente leve.
Como a suspensão também é macia, permitindo alguma rolagem da carroceria em curvas, e os pneus são do tipo verde, de baixo atrito, que não primam pela aderência, o modelo incita a uma condução sem pressa, aproveitando a boa filtragem das imperfeições da pista, até porque os freios estão entre os mais simplórios do segmento: o problema nem são os tambores na traseira, padrão em compactos de peso tão baixo, e sim os discos dianteiros, que são sólidos, e não ventilados. Até imobilizam o veículo com relativa eficiência, mas são mais sensíveis à fadiga.
Consumo
O motor de três cilindros mostrou sua vantagem mais expressiva no consumo de combustível. Graças a ele, o Uno cravou 12 km/l na cidade e 15,2 km/l na estrada durante nossas aferições, com gasolina. Trata-se de um resultado muito bom, mesmo para um compacto 1.0. Além de poupar o bolso do motorista, essas marcas fazem com que, mesmo com um tanque de 48 litros, o hatch tenha autonomia para rodar até 730 km.
Interior
O habitáculo do Uno já havia sofrido uma repaginação em 2014, e, por isso, não mudou agora. De fato, não falta atualidade: depois da atualização, e forros de portas ficaram vistosos. Esses últimos têm enxertos de tecido, algo que nem sempre se vê em modelos de entrada. Mas o material predominante é o plástico comum, o que não chega a destoar na categoria. O padrão de montagem é que deixa um pouco a desejar, com falhas em alguns encaixes. Há deslizes também na iluminação: faltam lâmpadas de cortesia tanto no porta-luvas quanto no porta-malas.
Por falar em porta-malas, o do Uno tem 280 litros, valor coerente dentro da categoria. O vão de entrada bem-dimensionado ajuda a embarcar a bagagem, mas o banco traseiro bipartido é item opcional. No habitáculo, há espaço adequado para os ocupantes da frente, mas os de trás contam com vãos pequenos para as pernas. Ao menos não haverá aperto para a cabeça, pois a capota alta alivia até ageiros mais altos. Outro ponto positivo fica por conta da presença de encostos de cabeça e cintos de três pontos para todos a bordo. Infelizmente, esse último item é opcional, mas, ao menos, é disponibilizado.
Características conhecidas
O motorista conta com um posto de comando razoavelmente ergonômico, prejudicado apenas pelos pedais muito próximos e levemente deslocados para a direita, inconveniente já conhecido do modelo. O ajuste de altura do banco é opcional, mas ele oferece bom apoio para a coluna, mas o assento curto não acomoda bem as coxas, problema que é comum em compactos. O volante tem pegada correta, mas não traz a regulagem telescópica, somente a de altura. Outro ponto negativo é o com conta-giros muito pequeno, que dificulta a leitura (lembra o da primeira série do Volkswagen Fox) e sem termômetro do fluido de arrefecimento. Mas há uma boa solução: a janela digital na parte central do velocímetro, configurável e de fácil visualização.
A versão Attractive é a mais em conta da linha Uno. Por, isso, de série, ela traz só o essencial: vem com ar-condicionado manual, faróis de neblina, limpador, lavador e desembaçador do vidro traseiro, predisposição para rádio (com quatro alto-falantes e antena), computador de bordo, travas elétricas e vidros elétricos dianteiros, além da já citada direção elétrica e dos obrigatórios por lei airbags frontais e frios ABS. O preço básico é de R$ 42.680, compatível com o de outros compactos com nível de equipamento semelhante.
Itens mais interessantes são opcionais
Opcionalmente, é possível adquirir uma diversidade de itens, agrupados em três pacotes. O primeiro deles, chamado de Kit Tech, custa R$ 3.805 e engloba alarme, chave com telecomando, vidros elétricos traseiros, retrovisores elétricos (sendo o direito com função tilt-down), volante multifuncional, aparelho de com RDS, entrada USB/AUX, viva-voz Bluetooth e função Audio Streaming e, o mais importante, controles eletrônicos de tração e de estabilidade e assistente de partida em rampa.
O segundo, batizado de Kit Tech Live On, custa R$ 4.009 e traz o mesmo conteúdo, mas acrescenta um sistema de conectividade via Bluetooth com rádio e aplicativo para smartphones com IOS e Android, além de entrada USB capaz de carregar celulares.
O terceiro e último pacote é o Kit Comfort, que, por R$ 650, reúne apoia-braço e apoia-pé para o motorista, console no teto, espelho no pára-sol do motorista, porta-óculos e revestimento de melhor qualidade nos bancos, além de três itens que deveriam ser de série em todo carro: os já mencionados cinto de segurança de três pontos e encosto de cabeça para o quinto ocupante e banco traseiro bipartido.
Impulso
Com tudo computado, fica claro que o motor Firefly deu, em todos os sentidos, novo impulso ao Uno. O três cilindros consegue rivalizar com hatches compactos mais modernos em desempenho e, principalmente, em consumo. Desse modo, o modelo está mais nivelado com a concorrência. O problema é que nivelado significa na média, adjetivo que, quando aplicado a um projeto em fase de meia-vida como o compacto da Fiat, pode não ser o bastante. Apesar das melhorias, ele ainda fica devendo um câmbio com melhor manuseio e uma suspensão com calibragem melhor equacionada. Esses reveses poderiam ser amenizados se, ao menos, o pacote de série trouxesse os itens de segurança oferecidos como opcionais. Porém, em termos de equipamentos, o veículo está novamente, e tão somente, na média da categoria.
AVALIAÇÃO | Alexandre | Marlos |
Desempenho (acelerações e retomadas) | 7 | 8 |
Consumo (cidade e estrada) | 10 | 10 |
Estabilidade | 6 | 7 |
Freios | 6 | 7 |
Posição de dirigir/ergonomia | 7 | 8 |
Espaço interno | 7 | 7 |
Porta-malas (espaço, ibilidade e versatilidade) | 6 | 7 |
Acabamento | 7 | 8 |
Itens de segurança (de série e opcionais) | 7 | 7 |
Itens de conveniência (de série e opcionais) | 7 | 8 |
Conjunto mecânico (acerto de motor, câmbio, suspensão e direção) | 8 | 9 |
Relação custo/benefício | 7 | 7 |
FICHA TÉCNICA
Dianteiro, transversal, três cilindros em linha, 6 válvulas, gasolina/etanol, 999 cm³ de cilindrada, 72 cv (g)/77 cv (e) de potência máxima a 6.250, 10,4 kgfm (g)/10,9mkgf (e) de torque máximo a 3.250 rpm
»TRANSMISSÃO
Tração dianteira, câmbio manual de cinco marchas
»ACELERAÇÃO ATÉ 100 km/h (dado de fábrica)
13,6 segundos com gasolina e 12,5 segundos com etanol
»VELOCIDADE MÁXIMA (dado de fábrica)
154 km/h com gasolina e 157 km/h com etanol
»DIREÇÃO
Pinhão e cremalheira, com assistência elétrica
»FREIOS
Discos na dianteira e tambores na traseira, com ABS
»SUSPENSÃO
Dianteira, independente, Mherson; traseira, traseira, semi-independente, barra de torção
»RODAS E PNEUS
Rodas em aço, 5,5 x 14 polegadas, pneus 175/65 R14
»DIMENSÕES (metros)
Comprimento, 3,820; largura, 1,636; altura, 1,480; distância entre-eixos, 2,376
»CAPACIDADES
Tanque de combustível: 48 litros; porta-malas: 280 litros; carga útil (ageiros e carga): 400 quilos; peso: 1.010 quilos
Fotos | Marlos Ney Vidal/Autos Segredos