. Daí compreendemos sua sobrevivência. 2d104j

Foto | Roberto Dutra – A atual geração preserva a essência clássica, mas muitos detalhes foram mudados para lhe dar uma aparência mais “jovem”

Na geração atual, surgida em 2018 – e cuja versão 2021 aceleramos nesse test-ride que aqui publicamos -, suas virtudes foram potencializadas. Com chassi e motor novos, entre muitas outras mudanças, a comparação começa no peso: na última versão da geração anterior, com o chamado motor Twin Cam “103” (1.690cm³), a moto pesava 341kg em ordem de marcha. A atual, com o motor Milwaukee-Eight 114 (1.868cm³), pesa 330kg. Os 11kg a menos fazem um mundo de diferença, ainda mais somados a potência e torque maiores – números que veremos adiante, em nossa análise dinâmica.

Antes, vale dar uma espiada no visual da atual Heritage Classic. Pode ser um choque para quem se acostumou aos cromados que a moto sempre ostentou, mas a mudança lá em 2018 teve como objetivo dar um aspecto mais “jovem” à moto – e, assim, tentar ampliar e renovar seu leque de compradores. Saiu o aspecto retrô e entrou um jeito meio “malvadão”: peças antes cromadas como guidom, régua do tanque, garfos dianteiros, rodas e motor aram a ser pintadas de preço e o e dos piscas traseiros (o popular “bigode) diminuiu de tamanho, assim como os próprios piscas.

Foto | Roberto Dutra – Os faróis principal e auxiliares são com LEDs. O para-brisa tem uma película preta na metade inferior. No tanque, o lindo emblema retrô

Para completar, a metade inferior do para-brisa ou a vir com uma inexplicável película preta – que, até hoje, nas minhas pesquisas informais, teve 100% de reprovação. Isso continua igual até hoje, mas nossa Heritage 2021 já voltou um pouco no tempo: os escapes e algumas partes do motor estão cromados novamente, compondo um visual bonito e equilibrado. E o atual emblema no tanque, com pega retrô, é muitíssimo elegante!

E a moto mantém farol principal e auxiliares com LEDs, redesenhado com velocímetro analógico, números de visual clássico e um mostrador digital logo abaixo. Ali estão o indicador do tanque e as tradicionais funções de hodômetros total e parciais, autonomia e até consumo. As luzes-espia continuam do lado de fora e pouco visíveis sob luz forte.

Foto | Roberto Dutra – O de instrumentos mantém o velocímetro analógico e os grafismos retrô, mas a na parte inferior há uma tela de LCD com várias informações

E não há mais aquele botão de ignição ali embaixo: com a chave/alarme presencial no bolso, aperte o “start” no punho direito, ligue a moto e parta. Falando nisso, os punhos ficaram um pouco menores e dão o mais fácil aos botões de farol alto, piscas, corta-corrente e buzina – que, hallelujah!, deixou de ser “fon-fon” e virou “bi-bi”: isso pode parecer bobagem, mas no trânsito brasileiro os motoristas não reconhecem “fon-fon” como buzina de moto. Aí não ficam ligados e muito menos abrem agem num corredor, por exemplo. Outro quitute: o acionamento dos faróis auxiliares deixou de ser feito naquele botão de abajur que ficava escondido atrás da capa dos garfos e ou para o punho esquerdo.

Foto | Roberto Dutra – Mudança evidente na traseira: os piscas ficaram menores e o “bigode”, mais estreito

O banco mudou pouco, mas é nítido que tem menos espuma – embora continue anatômico. Apesar disso, a ergonomia continua sendo elogiável: posição bem sentada com as pernas levementes esticadas à frete, guidom meio “seca-sovaco” de fábrica em ótima altura e tudo à mão. Lá atrás, a Heritage Classic ostenta alforges mais moderninhos, com abertura mais prática e tranca por chave. Mas são menos charmosos.

Foto | Roberto Dutra – Os alforges ficaram mais rígidos, abrem para fora e têm tranca com chave. Mas o visual é menos charmoso que o da geração anterior

Porém, incompreensível mesmo, foi a moto ter perdido o encosto de garupa, que não é mais item de série. Esteticamente parece que falta algo, e para o garupa falta mesmo. Algo tão lamentável quanto os pneus não virem mais com bandas brancas. Outros dois pontos que continuam críticos são os punhos com material ordinário (uma borracha que, não demora muito, vai se desintegrar) e as pedaleiras do garupa, ainda do tipo palito – essa moto, até pelo preço, deveria vir com plataformas.

Pau na máquina 5o6i61

Feitas as apresentações, é hora de acelerar. E que acelerações! Na chegada da nova geração, a moto tinha apenas o motor “107”, que já era um petardo diante do antigo “103”. Mas este “114” é ainda mais impressionante! Já nos primeiros quilômetros é possível ver como as acelerações são muitíssimo mais poderosas do que nas versões anteriores. O ME-114 tem força sobrando em quaisquer faixas de rotações.

Foto | Roberto Dutra – O motor Milwaukee-Eight 114 é um arraso: força em todas as faixas de rotação sem beber demais

No trânsito urbano, a equação peso x potência dá à Heritage Classic “114” o comportamento de uma moto menor: tem a leveza e a agilidade de uma Honda Shadow 600, por exemplo, mas sem aquele esterço esquisito de moto pescoçuda e de frente pesada. Aqui, é tocar no acelerador, rebolar o necessário e acompanhar as motos pequenas nos corredores e ruas.

Na estrada, mais assombro. Primeira, segunda, terceira, quarta, quinta, sexta e esqueça da vida. Lembro que na Heritage Classic com motor “96”, a sexta era mero overdrive. Na versão “103”, tinha alguma forcinha dependendo da rotação em que o motor estivesse. Na “107”, força bem mais evidente, que lhe permitia ganhar velocidade progressivamente. Aqui, na sexta, não é preciso pensar em reduzir para fazer uma ultraagem com extrema disposição e segurança. Enrole o cabo virtual (o acelerador é eletrônico) e deite o cabelo!

Foto | Roberto Dutra – Ao alcance das mãos: os punhos ficaram menores e melhoraram o uso aos botões

Nas curvas a Heritage Classic atual também faz as antigas parecerem carroças. Temos um ótimo equilíbrio proporcionado pela suspensão traseira, que de bichoque virou monochoque, pela aderência surpreendente fornecida pelos excelentes pneus Dunlop e pelas pedaleiras um pouco mais altas do que antes, que só vão raspar no chão se o piloto forçar a barra. As frenagens, por outro lado, são eficientes, mas não impressionam. Por fim, vale mencionar o consumo: com tocada civilizada, fiz média de 19,6km/l – média similar à das versões e gerações anteriores, porém com mais leveza e força.

Em resumo, a Heritage Classic continua oferecendo um ótimo conjunto – talvez o melhor entre os das Harley-Davidson atualmente vendidas no Brasil. Pena que ficou um pouco difícil falar em custo-benefício na marca: com a alta do dólar e outros aspectos macroeconômicos desfavoráveis no país, a Heritage Classic 114 custa, atualmente, de R$ 103.775 a R$ 105.605. É um preço alto demais, mesmo para esse ótimo conjunto.

Foto | Roberto Dutra – A elegante combinação das cores vinho com branco perolizado é uma das opções na linha 2021

Ficha técnica Harley-Davidson Heritage Classic 114 6s48c

Preços
De R$ 103.775 a R$ 105.605

Motor
Dois cilindros em V, injetado, refrigerado a água, quatro válvulas por cilindro, 1.868cm³, torque de 16,1kgf.m a 3.000rpm e potência estimada de 90cv

Transmissão
Câmbio de seis marchas com secundária por correia

Suspensões
Garfos telescópicos na frente e monochoque atrás

Freios
A disco simples na frente e atrás, com ABS

Pneus
130/90 R 16 na frente e 150/80 R16 atrás

Dimensões
1,41m de comprimento, 1,63m de entre-eixos, 68cm de altura do banco e 12cm de vão livre

Pesos
316kg a seco e 330kg em ordem de marcha

Tanque
18,9 litros

Consumo
19,6km/l (cidade/estrada)

Redação http://autossegredos-br.diariodoriogrande.com

Redator do Autos Segredos.

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