Pecados cometidos pela marca alemã no nosso mercado am por carros não lançados e posicionamento equivocado de outros produtos Por Fernando Miragaya A Volkswagen sempre teve uma imagem inquestionável de durabilidade e confiabilidade no mercado brasileiro. Muito graças ao fato de ter emplacado dois dos maiores sucessos da indústria automotiva nacional. Porém, a marca alemã também tropeçou várias vezes ao longo de sua trajetória. VEJA TAMBÉM: CONFIRA ITENS DE SÉRIE DO VW POLO 2023SAIBA O QUE POLO 2023 PERDEU PARA FICAR MAIS BARATOVEJA NOSSO PRIMEIRO CONTATO COM O NOVO VW POLO 2023 Muitos dos percalços pelo caminho custaram, inclusive, a outrora liderança absoluta do mercado. Hoje, a Volks luta - e geralmente perde - pela segunda posição no market share total com a General Motors. Além disso, deixou de ter o carro mais emplacado do Brasil há algum tempo, um dos erros que abordaremos aqui. O Gol até ficou como carro de eio mais vendido dois meses este ano, mas o modelo já está em vias de sair de linha. Fato que é visto como outro equívoco por parte da Volks, já que o hatch compacto, após mais de 40 anos de sucesso, será substituído pelo Polo Track para ser o carro mais barato da marca no país. E também dará lugar a uma nova linha de SUVs pequenos de entrada, que só chegam em 2024. Gol chaleira Foto | Volkswagen/Divulgação - Primeiro Volkswagen Gol tinha motor 1.3 refrigerador a ar no Brasil O Gol é um sucesso inquestionável da Volks e da indústria, mas um dos vacilos mais famosos da Volks diz respeito à primeira geração do hatch. O começo de vida do compacto, em 1980, foi tenso - especialmente pelo conjunto mecânico. No primeiro ano de existência a marca alemã optou por equipar o Gol com o motor 1.3 do Fusca. Tudo bem que o intuito era fazer do hatch o substituto do Besouro, só que o propulsor boxer resfriado a ar era barulhento e conferia desempenho pífio ao novo modelo, que logo recebeu o apelido de Chaleira. Em 1981 a marca trocou o 1.3 pelo 1.6 com dupla carburação e também refrigerado a ar. Melhorou a performance, mas continuou a render reclamações e problemas. O Gol só foi fazer as pazes com os mecânicos a partir de 1984, com a chegada dos motores refrigerados a água. Kombi a diesel Foto | Volkswagen/Divulgação - VW Kombi diesel tem valor hoje em dia, mas em seu lançamento foi um fiasco Essas versões da Kombi valem uma grana hoje, contudo seu projeto se mostrou um erro de engenharia da Volkswagen. Lançado em 1981, o furgão a diesel usava o 1.5 refrigerado a água que equipava o at exportado para o Iraque. O desempenho do modelo comercial deixava a desejar e no ano seguinte a Kombi a diesel ou a ser movida pelo 1.6. No embalo, a Volks fez a variante picape com o mesmo conjunto mecânico. O carro, contudo, fracassou por problemas e queixas sem fim sobre superaquecimento. Em especial porque o motor ficava na traseira, enquanto o radiador foi colocado na parte dianteira. Desta forma, a troca da água do sistema de arrefecimento não resfriava como deveria. Volkswagen e Ford no Brasil: Autolatina Foto | Volkswagen/Divulgação - Volkswagen Pointer foi um dos modelos da Autolatina que não tiverem êxito no Brasil A holding mais famosa que a indústria automotiva brasileira conheceu se revelou um erro estratégico para a Volkswagen e também para a sua parceira, a Ford. Em 1987, as duas fabricantes anunciaram o acordo que previa compartilhamento de plataformas e conjuntos mecânicos, porém, com marcas separadas. Foi aquela época de carros clones entre as duas montadoras. De um lado, Ford Versailles e Royale e VW Santana e Quantum usavam base VW; do outro, Escort, Verona, Apollo, Logus e Pointer se valiam de arquitetura Ford. O caldo começou a entornar logo após o início da parceria começar para valer, em 1990. A Volks já planejava o lançamento da segunda geração do Gol, de quem o Escort era um dos rivais. Ao mesmo tempo, a Ford queria lançar o seu compacto para brigar na base do mercado, no mesmo segmento do já carro mais vendido do país, o que teria sido vetado pelos alemães. Para completar, a linha de compactos se mostrou um verdadeiro fracasso, em especial o trio da Volks: Logus, Apollo e Pointer. Já na parte de cima do mercado, o Versailles vendia ⅓ do que o Santana emplacava. Em 1994, as duas partes anunciaram o fim da parceria, que se deu formalmente em 1996. O saldo foi perda de participação de mercado para ambas. Na década de 1980, a marca alemã era a líder absoluta, com 34% de market share. A norte-americana era a segunda colocada, com 21%. Seis anos após o fim do casamento, a VW caiu para terceiro (22%), enquanto a Ford aparecia (ainda) em quarto, com 10%. Volkswagen trocou o Voyage bolinha… Foto | Reprodução/[@veigaluizalberto] - Voyage Bolinha não ou da parte de estudos Em 1994 a Volks lançou o Gol Bolinha, a segunda geração que ganhou esse apelido pelas linhas arredondadas que foram seguidas pela Parati e pela Saveiro. Só quem não acompanhou o cortejo foi o Voyage, o que revelou, mais tarde, que a Volkswagen perdeu literalmente o bonde da história. Curiosamente, o Voyage Bolinha estava bem encaminhado. Recentemente, Luiz Veiga, chefe de Design da marca no Brasil naquela época, publicou em seu perfil no Instagram a apresentação para a matriz da segunda geração do Gol, na Alemanha, onde é possível avistar o Voyage, com duas portas e formas arredondadas que lembravam bastante as linhas do Logus que já citamos aqui. …pelo Polo Classic Foto | Volkswagen/Divulgação - Volkswagen Polo Classic era importado da Argentina para o Brasil Alguém inspirado dentro da marca alemã vetou o Voyage de segunda geração naquela ocasião. Pior: o sedã saiu de linha em 1996 e no seu lugar acharam que o Polo Classic (espécie de Seat Cordoba com emblema VW) importado da Argentina cobriria a lacuna. Mais um equívoco da Volks. Resultado: a marca alemã ficou quase uma década sem um sedã compacto para brigar na base do mercado. Enquanto isso, General Motors e Fiat se lambuzaram no segmento com toda a sorte de modelos e variações. O Voyage só voltou em 2008, junto com a terceira geração do Gol, mas já chegou defasado em relação aos rivais mais espaçosos. Cuidado com o dedo! Foto | Volkswagen/Divulgação - Banco traseiro do Fox tinha falha de projeto que decepou dedos de pelo menos 37 pessoas A falta de um aviso desse tipo (não obrigatoriamente desta forma) fez a Volks queimar sua imagem à toa e a do seu compacto bom de vendas. Em 2004, começaram a pipocar relatos de donos do Fox que tiveram os dedos parcialmente decepados ao tentar ativar o sistema de rebatimento do banco traseiro do hatch. O problema estava na alça que fazia o rebatimento, posicionada no porta-malas, e que devia ser puxada para que a trava do banco corrediço fosse liberada. Porém, a peça ficava presa a uma argola que prendeu (e decepou) o dedo de pelo menos 37 pessoas. Em vez de reconhecer o erro e fazer um mea culpa, a Volks adotou uma postura, no mínimo, arrogante. A montadora se negou a fazer um recall e o presidente da marca chegou a dizer na TV que os acidentes eram responsabilidade dos clientes. A postura resultou em R$ 3 milhões que a Volkswagen teve de destinar a um fundo de defesa de direitos do consumidor do Ministério da Justiça. E, claro, a marca alemã ainda foi multada e teve de fazer o recall de mais de 800 mil unidades de Fox, CrossFox e SpaceFox. Volkswagen não teve sucessor para Kombi no Brasil Foto | Volkswagen/Divulgação - VW Kombi saiu de cena deixando a marca sem representante entre os comerciais leves Outro mercado entregue foi o de comerciais leves. A Kombi era o modelo mais barato capaz de carregar uma tonelada do pedaço e seu custo/benefício era imbatível. Porém, a Volks nunca preparou um sucessor para o famoso pão de forma - tempo, não faltou, já que o modelo só deixou de ser produzido em 2014. Pior, a Volks não se valeu das vendas e do carisma da Kombi para ter bons representantes nos segmentos de furgões e vans. Tentou até importar alguns modelos, mas nenhum deles emplacou. Volkswagen errou no posicionamento do Up! no Brasil Foto | Marlos Ney Vidal/Autos Segredos - up! foi mal posicionado no mercado e acabou tendo produção encerrada bem cedo Em 2014 a Volkswagen ou a produzir no Brasil um subcompacto moderno. O up! chegou com toda a pompa da plataforma MQB, motor três-cilindros econômico e construção que lhe rendeu boas estrelas no Latin NCAP. Tudo para dar certo, não fosse seu posicionamento no mercado. Vender um automóvel menor do que o Gol e o Fox por preços próximos ou mais caros do que os dois hatches é complicado em um país que compra carro a metro. Tanto que o Up! só vendeu no início - foram 58 mil unidades no primeiro ano e outras 54 mil, no segundo. Só que isso pulverizou as vendas justamente nos segmentos que mais fazem volume no Brasil. Além do fogo amigo do Up!, neste ano o Gol sucumbiu perante o Fiat Palio e depois o Chevrolet Onix no ranking dos carros mais emplacados, pondo fim a uma liderança ininterrupta de 28 anos. Apesar de todas as qualidades inquestionáveis, o Up! se despediu em 2021 com 207 mil unidades comercializadas e um gosto amargo de fracasso. Nos dois derradeiros anos, não figurou nem entre os 40 carros de eio mais emplacados do país. E o Gol nunca mais retomou a liderança; Volkswagen Golf no Brasil Foto | Volkswagen/Divulgação - Volkswagen optou por reestilizar o Golf no Brasil em vez de trazer nova geração A terceira e quarta gerações globais do hatch médio mais famoso do mundo fizeram bastante sucesso no Brasil. Ainda mais o Golf IV, ou Sapão, que foi produzido por aqui. O problema foi que a marca alemã esticou tanto a vida desse modelo que deixou um hiato inusitado do carro, que ainda foi desfigurado no fim de vida. O hatch mudou duas gerações lá fora e o daqui, nada. Em 2007, a Volkswagen fez uma remodelação profunda no carro, que acabou sendo chamado jocosamente de Golf 4,5 e de Golfssauro.Apesar da ótima dinâmica - e até de manter vendas boas -, o Golf IV perdeu fôlego. E parece ter atrapalhado a sétima geração, que ou a ser vendida aqui em 2014 sem conseguiu honrar o nome e suas qualidades históricas. Primeiro o hatch médio da Volkswagen foi importado da Alemanha e do México, mas nem quando ou a ser produzido no Brasil emplacou, ainda mais em um segmento que já dava sinais de perda de vendas para os SUVs. Em 2019, teve a fabricação encerrada. Porões da ditadura Aqui, um erro do ado da Volkswagen no Brasil, mas reconhecido no presente. Investigações dos Ministérios Públicos Federal, de São Paulo e do Trabalho apuraram que a montadora colaborou com os órgãos de repressão durante a ditadura militar. As ações da marca resultaram em prisão, tortura e perseguição de diversos ex-funcionários. Em 2020 a Volks reconheceu os erros e firmou um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) no qual se comprometeu a destinar mais de R$ 36 milhões a ex-trabalhadores perseguidos na ditadura. A marca tornou-se uma das primeiras empresas estrangeiras no país a reavaliar sua participação nesta fase nebulosa da história do país. Membro do Conselho de istração da Volkswagen AG, Hiltrud Werner chegou a declarar na ocasião: “Lamentamos as violações que ocorreram no ado. Estamos cientes de que é responsabilidade conjunta de todos os atores econômicos e da sociedade respeitar os direitos humanos e promover sua observância. Para a Volkswagen AG, é importante lidar com responsabilidade com esse capítulo negativo da história do Brasil e promover a transparência”. Autos Segredos no YouTube: Confira nosso primeiro contato com o VW Polo 170 TSI: https://www.youtube.com/watch?v=v-12wjrlqTw Siga nossas redes sociais para muito mais informações Acompanhe o Autos Segredos no InstagramAcompanhe o Marlos Ney Vidal no InstagramCurta nossa fanpage no Facebook