Anfavea se ampara na pandemia de Covid-19 para pedir adiamento dos marcos regulatórios de emissões previstos para estrear em 2022
A indústria automobilística vem pressionando o governo federal de forma a adiar os avanços do Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve). A Anfavea se apoia na crise provocada pela pandemia de Covid-19 e faz, desde o começo do semestre, lobby pelo adiamento da implementação de melhorias tecnológicas nos motores a fim de reduzir a emissão de poluentes. No entanto, agora alerta que poderá deixar de entregar caminhões e automóveis caso seu desejo não seja atendido.
Mas além da pandemia, o Governo Federal tem atrasado na publicação de regulamentações que atrasa ainda mais o processo.

“Se não for acatada nossa sugestão, pode acontecer de alguns modelos não estarem disponíveis [no mercado]. Ninguém do setor vai entregar um veículo sem que tenha 100% de certeza que atende ao mínimo dos limites das emissões”, disse Luiz Carlos Moraes, presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).
Ainda de acordo com Moraes, a indústria mantém diálogo com o governo federal e também com o Ministério Público sobre o assunto. Para ele, o setor foi prejudicado por conta da pandemia do novo coronavírus e, por isso, não poderá cumprir com as demandas do Proconve. A Anfavea havia se comprometido a investir R$ 12 bilhões para reduzir emissões.
GOVERNO CEDE A FABRICANTES E ADIA CARROS BRASILEIROS MAIS SEGUROS
O Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) estabeleceu prazo para que a fase P7 do programa tenha fim até o início de 2023. Na sequência, na fase P8, o setor automobilística terá de oferecer aos consumidores veículos com filtro de partículas cancerígenas 95% mais eficientes, além de redução de mais de 99% do número de material particulado – o grande responsável pela poluição nas cidades.
“Essa nova fase [P8] é muito sofisticada. Não pode ter erro. Não dá para pular etapa. Para pesados temos que garantir 800 mil quilômetros de testes, para automóveis 160 mil [km]. Essa é uma sofisticada tecnologia e ninguém da indústria vai correr o risco de entregar uma coisa malfeita”, salientou Moraes.
O presidente da Anfavea disse ainda que o setor irá entregar as novas bases para a fase P8 do Proconve. No entanto, fez questão de frisar que “não tem como tirar o atraso” gerado, segundo ele, pela pandemia.
“Tivemos paralisações em abril, maio. Testes foram interrompidos, laboratórios foram fechados. Engenheiros e executivos que iriam ao exterior para transferência de conhecimento foram impedidos de viajar. Tudo isso provocou um atraso de cronograma de testes de desenvolvimento. Isso afetou à montadora, fornecedor, sistemista e laboratórios”, comentou Luiz Carlos Moraes.
A Anfavea pretende postergar as mudanças para, pelo menos, 2025. Desde 2012, para caminhões, e 2014, para automóveis, que o setor segue sem quaisquer alterações no programa de controle da poluição do ar por veículos automotores.
“Nós somos defensores da nova tecnologia. Nós ajudamos a construir a resolução, participamos de todas as discussões no Proconve. Agora, da mesma forma que Congresso, Judiciário, Ministério Público, ONGs – que também não têm reuniões presenciais – foram impactadas, as atividades de engenharia, de testes, também foram”, disparou Moraes. “Isso é um fato. Queremos discutir o fato”, completou.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a poluição do ar matou 51 mil pessoas no Brasil em 2017. Além do pedido de adiamento do Proconve P8, a Anfavea pediu a postergação, e conseguiu, da obrigatoriedade de itens de segurança como controle de estabilidade, luzes de condução diurna e alerta de cinto desafivelado.
No caso do controle de estabilidade, tal segue como mandatório para veículos inéditos lançados desde 1º de janeiro. Todavia, a implementação em toda a frota, prevista para 2022, foi empurrada para 2024.
A associação também conseguiu o adiamento do teste de impacto lateral para veículos vendidos no país. A avaliação, que seria cobrada a partir de janeiro de 2023, a a valer só a partir de janeiro do ano seguinte. O pedido foi feito com base nas mesmas alegações para a postergação do P8. A Anfavea disse à época que a readequação não poderia ocorrer por conta do “atraso no cronograma de desenvolvimentos, testes, homologações e treinamentos provocado pela pandemia da covid-19”.